Derrubando uma parede…

Eu já vivo no atual endereço onde resido por mais de sete anos e nunca fiz uma reforma. Depois de passar quase quatro meses com minha mulher (fazendo home office) e ela me confessar que já não me aguentava mais, resolvi fazer alguma coisa para salvar nosso relacionamento. O problema é que ela se instalou na sala e eu, quando precisava usar o meu computador, me postava bem ao lado . O trabalho dela, além de elaborar planilhas e responder e-mails, envolve também ligar para os colaboradores da empresa que trabalham na rua. Daí já viu né? Quando a ligação está baixa e a pessoa do outro lado não te escuta direito, você automaticamente aumenta sua voz! E isso foi motivo para várias discussões aqui dentro de casa. Ela diz que eu sou muito ranzinza e por aí vai! Por fim, resolvi que devíamos fazer o que todos os vizinhos já haviam feito: Diminuir o espaço da imensa cozinha e dividi-la ao meio. De forma que a outra metade se transforma-se num espaço para o homem de casa. É claro que para “dividir” a cozinha ao meio, seria preciso derrubar uma parede.

Devo confessar que nunca antes em minha vida, havia feito obras em casa morando nela. Minhas desventuras já começaram no momento de achar um pedreiro disponível. Cheguei a marcar com um pedreiro que por duas vezes não apareceu. Imaginei que estivesse muito ocupado. Assim, depois de receber uma segunda indicação que compareceu na data marcada para fazer o orçamento, resolvi não perder a oportunidade. Depois de avaliar o que precisava ser feito ele me deu o orçamento. Porém, ao reconferir seus cálculos, disse que tinha errado e acrescentou mais R$ 400,00. Aceitei pois realmente precisava dessa reforma. No mesmo dia, fomos a uma loja de material de construção aqui perto de casa mas verificamos que a loja não fazia entrega do vasto material que iríamos precisar para a dita obra. Resolvemos então ir a outra loja de material mais distante que ao menos fazia a entrega dos referidos materiais. Só aí foram mais de R$ 650,00 em material de construção.

No dia combinado, apareceu o pedreiro com seu ajudante, um garotão que não devia ter mais de 24 anos de idade.

Pedreiro.

Que nenhum dos dois usava máscara eu nem questionei. Mas as solicitações dele foram as seguintes:

-“O senhor precisa comprar um balde de pedreiro”. Eu realmente comprei um deses. Só para ele depois me dizer que um só não bastava. Mas se contentou com dois baldes.

-“O senhor precisa comprar um madeirite para eu poder fazer a massa do cimento”.(Esqueci de dizer que meu apartamento fica no quarto andar de um prédio e conforme vocês já devem imaginar, o espaço é bem limitado. Chegando ao ponto de o pedreiro precisar virar a massa no espaço dentro do compartimento da lixeira do prédio).

-“O senhor precisa comprar um tábua de madeira para que eu possa usar como um mini-andaime”. Todos os pedidos dele eu atendi sem pestanejar pois não entendo nada de obra.

Só comecei a estranhar um pouco quando no segundo dia de obra ele precisava de uma peneira e disse ter esquecido de trazer. Sorte que consegui uma emprestada no meu próprio prédio.

Também no segundo dia, o pedreiro me contou que tinha problemas com o celular e me perguntou se poderia ajudá-lo. Fui prontamente atendê-lo. Ele tinha um App do 99 táxis instalado mas não saia da tela inicial (segundo ele mesmo falou)! Resolvi desinstalar o aplicativo e instalar novamente. Deu o mesmo problema!

Ele reclamou então que o Whats App não funcionava. Novamente lá fui eu ajudá-lo. Em determinado momento da instalação vinha a seguinte mensagem “Por favor informe a senha”. Daí ele me deu uma senha (vamos supor que fosse: matutodobairro16). A resposta foi: “Senha incorreta”. Informei isso a ele. Então ele disse: “Tenta ‘matutodobairro14’ então!”. Inseri a nova senha e a resposta foi: “Senha incorreta”. Só isso, já seria o bastante para pararmos por aqui mesmo. Mas ele me fez repetir todo o processo pelo menos duas vezes com ambas as senhas. Ao contar esse episódio para a minha mulher eu até achei engraçado mas nas duas semanas que se passaram mais coisas “engraçadas” aconteceram.

Uma coisa que eu não achei nada engraçada foi descobrir lá pelo quinto dia, que o ajudante era ex-presidiário. Na verdade, ele ficou no xadrez por trinta e três dias por não ter pago pensão a ex-esposa. Mas quando descobri isso eu que me senti traído.

Outra coisa que eu não gostei foi ter comprado uma porta sanfonada de 70 cm de largura (tamanho padrão) e quando o pedreiro foi instalá-la no último dia da obra, descobrir que a largura da porta do banheiro era maior só dois centímetros. Resultado, a porta não fecha. Mas o brilhante pedreiro fez um “enxerto” para a porta poder fechar. O resultado foi que qualquer pessoa mais “fofinha” precisa entrar no banheiro de lado (ou de perfil). Afinal, do jeito normal, não se consegue entrar.

Bom, eu poderia escrever um livro inteiro com todas as peripécias que tive com esse pedreiro aqui em casa por quase duas semanas porém acho melhor parar por aqui e deixar as demais experiências para outra oportunidade.

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